- Área: 600 m²
- Ano: 2015
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Fotografias:Pedro Napolitano Prata
Descrição enviada pela equipe de projeto. Demandado pelo trabalho social de uma diretoria voluntária de escola pública, e construído pela doação de mão de obra e materiais de uma construtora, a proposta arquitetônica para o Espaço Lúdico Sinhazinha Meirelles procurou transformar as condições topográficas adversas do terreno, nos fundos de uma escola pública, e os poucos recursos, em espaços recreativos estratégicos e simbólicos através de elementos formais básicos, como as retas, os círculos, os quadrados e os retângulos, propiciando ambientes infantis lúdicos e simples, fundados na criatividade da cultura brasileira, que potencializa objetos e materiais cotidianos em ferramentas para a imaginação de infinitas possibilidades e sensações.
A dificuldade no acesso ao terreno e os poucos recursos disponíveis, guiaram a intervenção para o uso lúdico e criativo de poucos materiais, econômicos e tradicionais na construção civil, como o bloquete de concreto, o cimento queimado, as vigas e telhas metálicas, e principalmente, os blocos de concreto aparente, utilizados repetidamente de diferentes maneiras.
O elemento principal desenha-se como uma risca na geografia, afim de organizar e caracterizar diferentes lugares. O muro dorsal do projeto qualifica de um lado um espaço mais intimista e estreito, e de outro um espaço mais aberto e amplo. Os blocos de concreto criam 'rendas' de luz e sombra, portas e janelas em diferentes alturas, enquadram fragmentos da paisagem na escala das crianças, protegendo-as de um talude abrupto, e oferecem um horizonte na cota do olhar para os adultos, caracterizando-se não como limite, mas como abrigo.
Nos extremos desta linha racional, dois círculos dialéticos contrapõem-se. De um lado a torre, pequena e alta, de outro o terreiro, grande e baixo. A torre localiza-se na ponta de uma ‘península’ alta, um lugar estratégico de vigia das brincadeiras para desbravar a vista, como em um baluarte de um forte português que lança diferentes olhares sobre a paisagem. Já o terreiro, circundado por uma pequena arquibancada ajustada ao terreno, é o espaço flexível para o inimaginável. No cotidiano oferece lugar à bolinha de gude, ao pião, às brincadeiras de roda e às contações de estórias, nos dias festivos é o lugar das fogueiras, das rodas, das danças e das apresentações, sempre beneficiado pela vista privilegiada.
Ademais, uma cobertura longitudinal ao muro oferece às crianças sombra em dias de sol, e abrigo nos dias de chuva. Os blocos de concreto formam pequenos volumes de contenções de terra, de um lado as hortas, resguardadas do lado mais intimista do muro, e de outro pequenos patamares retangulares de brincar, com areia e saibro, abrigados pelas árvores existentes mantidas. Uma canaleta aberta, junta aos muros de limite do terreno, desenha o caminho de escoamento da água pluvial, de maneira agradável e didática.
Por fim, os grafiteiros, desenharam narrativas ao longo do espaço. O Espaço Lúdico Sinhazinha Meirelles procurou se aproximar, ao contrário de uma objetividade funcionalista, do espaço abstrato da imaginação infantil.